segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dialeto Caipiracicabano

Os posts dos blogs amigos Coisas e Coisinhas e Mel's Diary sobre o sotaque paulistano é claro que me fizeram citar o jeito característico caipira dos piracicabanos falarem. Nosso sotaque é mundialmente famoso.
Para os "estrangeiros" entenderem nossa sofisticada linguagem, o jornalista Cecílio Elias Neto - http://www.aprovincia.com/ - escreveu o dicionário Arco, Tarco, Verva.

Seguem algumas pérolas do tal decifrador do Dialeto Caipiracicabano:


Às dereita - Expressão indicativa de direção, no sentido da direita. Instrutor de auto-escola costuma indicar aos alunos, aprendizes de motorista: “Ande sempre às dereita; naquela esquina, vire às dereita.” Por outro lado, como às dereita indica rumo, fala-se, por analogia, que muié honesta sempre anda às dereita, ou é muié às dereita.

Às esquerda - Obviamente, se às dereita indica o sentido da direita, às esquerda indica o da esquerda. “Naquela otra rua, ocê vire às esquerda” – fala o já citado instrutor de auto-escola. Estranhamente, no entanto, muié desonesta nunca é muié às esquerda.


Assá batata - As pessoas sábias e experientes sabem quando as coisas não vão dar certo. Então, dizem: “Vai assá batata.”, como se fosse o fim-do-mundo. Quando o Presidente da República anuncia qualquer plano de desenvolvimento, os sábios piracicabanos comentam no jardim: “Esse tar de prano num vai desenvorvê, vai assá batata.” Em Brasília, ninguém entende a visão dos sábios piracicabanos.


Assuntá - Verbo com diversas utilidades e sutilezas. Assuntá vem de assunto e significa informar-se, prestar atenção. Professora, quando vê a criançada distraída na sala de aula, vai logo advertindo-a: “Ô, negadinha, qué assuntá no que eu tô falano?” Pode, porém, ter o significado de bisbilhotar. Em motel, nego sempre pergunta, desconfiado, ao recepcionista: “Ocê garante que ninguém vai assuntá nói lá no quarto?” Usa-se com o sentido de averiguar: “Eu tô quereno assuntá se aquela muié tá a fins de mim...” E, também, no de compreender ou de não compreender. “Ocê assuntô no que eu falei?” – pergunta um. O outro responde: “Eu prestei atenção, mai ainda num assuntei nada.” Um verbo, portanto, eclético.

Até o cu fazê bico - Quase tudo que se faz em excesso, exageradamente. Quando se faz o que se fez excessivamente, diz-se que foi feito até o cu fazê bico. Colunista social, na gloriosa imprensa piracicabana, costuma comentar as grandes festas em clubes e salões sociais: “A negadinha comeu e bebeu até o cu fazê bico, de tão bão que tava.” Coisa fina.

Até parece - Expressão muito semelhante ao vê lá! A sutileza está na doçura, pois o até parece revela uma humildade e uma timidez menos agressivas do que o vê lá! “Ai, que exagero! Até parece...”

Atentá - Os não iniciados em nosso refinado dialeto podem pensar que atentá significa estar atento, prestar atenção. Não é nada disso, merda nenhuma. Atentá é enchê o saco, infernizar a vida do outro, provocar. A doce mãe piracicabana dá, diariamente, gritos histéricos, querendo estrangular os filhinhos: “Num güento mai, ocêis só atenta eu, vai dexá eu loca”

Atrasero - Na região de Piracicaba, não existe pernil. O que existe – e com boa qualidade – é o atrasero. Dona de casa, sempre atenta, chega ao açougue e pede: “Óia, eu quero um atrasero. Mai dos bão, falô?” O açougueiro sabe tratar-se de pernil. Por outro lado, atrasero é, em algumas oportunidades, como se chama o bumbum das pessoas, especialmente de muié, óbvio. “Óia só que atrasero que ela tem.” – costuma-se dizer quando muié bunduda passa pelas ruas. Só que, neste caso, o atrasero não tem qualquer conotação erótica.

Áua - Ora, áua é água, quem não sabe disso? O poeta Lino Vitti tem versos imortais: “As áua de nosso rio era especiar. Tinha áua quente, áua morna, áua fria. Agora, as áua de nosso rio são um rebosteio só.”

Babau - Quando o Fernando Collor foi mandado embora do governo, a sábia imprensa caipiracicabana sintetizou tudo numa só frase: “Fernando, babau!”. Assim, babau significa fim, podendo ser sinônimo de euforia ou de lamentação. Quando, por exemplo, o amor se acaba, a muié fala para o nego: “Agora, mor, babau prá nói doi...”


Badalá - Trata-se do proverbial e prosaico puxá o saco. Usa-se de duas maneiras. Ou como simples badalá, significando tudo: “Ocê já vai badalá ele?”, em forma sincrética. Ou mais analiticamente: “Ocê já vai badalá o saco dele?” Uma ou outra é muito usada e, portanto, facilmente compreendida. Em mudança política, acontece epidemicamente, especialmente entre empreiteiros, jornalistas e vereadores: nego que badalô prefeito anterior, corre badalá prefeito que se elegeu. E dá babau pro antigo grupo anterior.


E assim vai, até a letra Z.



Em tempo: O "Dicionário do Dialeto Caipiracicabano (Arco,Tarco,Verva), 5ª edição, pode ser adquirido na Livraria Nobel de Piracicaba.

4 comentários:

  1. kkk mtooooooo bom flavia.. aodreiiiii..
    li tudo aqui alto pro povo do escritorio..kkkk noiiiis racha..kkkk
    (ah , eu trabalho sim, rsrs mas damos risada tb..srsrs)

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  2. hahahah... eu uso muito.... ENZO, PARA DE ATENTA SEU IRMÃO... hahahaha deve ser pq tive uma infância sorocabana... hahahhaha

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  3. OTEMO Flavinha - adorei! Aqui na Capital temos os "dialetos" da ZL e da ZS, ninguém entende quase nada, mas vez ou outra acabamos incorporando algumas palavras ao nosso vocabulário, firmeza, "DOM"?

    Beijos!

    Sah

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  4. Roma, dei muita risada! Lembre na hora de um clássico: hino do XV!!!

    Carxara de forfe/ Carcanha de grilo / Asara de barata / Suvaco de cobra / Já que tá que fique / Treis veis cinco é ... XV XV XV!!

    Beijo!

    Grá

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