quinta-feira, 2 de julho de 2009

Extremos

Acompanho o mundo através da minha TV, internet, jornais e outros veículos de comunicação e é incrível como se pode tratar do mesmo assunto de formas tão diferentes.
Ontem, comecei a assistir o Super Pop, na Rede TV, pois falaria da não obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Vi 10 minutos e desisti, o debate era entre um advogado que defendia a decisão o STF, outro que atacava, um Zé Ninguém que se acha jornalista porque apresenta um programa caseiro e a Rosana Herrmann, que nunca foi jornalista de verdade, no máximo apresentadora de programa de fofoca e futilidades.
É incrível como as pessoas desconhecem nossa função. Em nome da liberdade de expressão o tal advogado disse que todo mundo poderia escrever um artigo no jornal, e que eu saiba sempre pôde. Quem escreve artigos não é jornalista, é articulista, que pode ter qualquer profissão e deve escrever sua opinião sobre os mais variados assuntos.
O jornalista, escreve reportagens, onde ele entrevista várias fontes, pesquisa documentos e textos e depois escreve a matéria sempre com os "dois lados"do assunto, sem emitir sua opinião! Quanto ignorância, cheguei a me retorcer na cadeira, e não tinha nenhum jornalista lá para esclarecer isso tudo!
Esse pessoal acha que fazer jornalismo é só sentar na frente do computador e escrever o que lhe vier na cabeça, baseado em sua bagagem intelecutal. Não é isso! Nós escrevemos sobre tudo, e usamos as entrevistas para nos inteirarmos dos mais variados assuntos. Quero ver quem vai querer cobrir chacina, enchente, rebelião em presídio e treino de futebol da terceira divisão.
Já escrevi matérias de cultura, política, trânsito, polícia, esporte, turismo, e outras sem ser especialista em nenhum desses assuntos e para isso usei as técnicas de entrevista e reportagem que aprendi na faculdade e depois as técnicas de redação.
A Rosana Herrmann disse que em profissões de humanas não é preciso conhecimento específico da faculdade, que você aprende isso sozinho. Então posso ser também advogada, economista, professora, historiadora, pedagoga, assistente social e tantas outros profissões dessa área?
E vamos combinar? Quem é jornalista sabe que liberdade de expressão não é a primeira coisa que se tem num jornal, ou alguém é ingênuo o suficiente para achar que a gente escreve o que quer, sem passar pelo crivo da direção e dos donos dos veículos?
Segundo o dicionário Aurélio, liberdade de expressão é "enunciação do pensamento por meio de gestos ou palavras escritas ou faladas", e não escritas ou faladas em meios de comunicação!
Está na hora de ter responsabilidade ao debater certos assuntos e tomar o cuidado que todo jornalista aprendeu na faculdade de mostrar os dois lados da história!


No outro extremo acompanhei a entrevista do jornalista Gay Talese (foto) na Flip 2009. Com 77 anos e 50 deles dedicados ao jornalismo ele contou sua trajetória profissional e falou da necessidade de estar onde as coisas acontecem. Ele é um dos criadores do new jornalism, ou jornalismo literário e ensinou como fazer jornalismo real. Pena que o Super Pop tem mais audiência que a Flip!

4 comentários:

  1. Eu ia escrever sobre esse assunto, na verdade vou pois li a reportagem sobre o Gay Talese. É Flavinha, querendo ou não o povo prefere assistir Superpop para formar sua opinião ao invés de ler ou mesmo assistir um debate sério sobre o assunto. Eu tenho a minha opinião sobre isso e estou evitando postar pois não sei até onde vou falar besteira pois como você mesma escreveu, poucas pessoas conhecem de fato a sua profissão. O que eu posso dizer é que a cada dia que passa eu aprendo mais com você sobre o assunto!

    Beijão!

    Sah

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  2. Flá
    Você realmente é uma pessoa de fé!!! Acreditou que um debate, mediado pela Gimenes, podia ser sério??! rs
    Seu blog tá demais!
    bjus!

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  3. Flávia,

    Eu tbm tentei assistir o debate do Superpop, mas fiquei bem menos tempo que vc no referido no programa, acho que não ultrapassou os cinco minutos. Concordo com vc em tudo que escreveu e assino junto!

    Bjus

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  4. Flávia,
    Li uma entrevista do Talese dias desses em que ele solta uma frase ótima: "O jornalista precisa levantar a bunda da cadeira e ir para a rua. O bom jornalismo é feito na rua" (sobre o jornalismo de internet). O programa Superpop é bom para discutir a carreira de uma atriz pornô e não a de um jornalista, embora, muitas vezes, o nível de sacanagem das duas profissões seja o mesmo. Um beijo do Duda

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