quarta-feira, 6 de maio de 2009

Elias dos Bonecos

Seu Elias com seus bonecos

Esses dias vi no programa da Ana Maria Braga um borracheiro que fabricou um boneco para protestar contra um buraco na frente de seu estabelecimento. Para meu espanto era idêntico aos feitos pelo Elias dos Bonecos.
Figura foclórica e um dos maiores representantes da cultura popular de Piracicaba, Seu Elias montava bonecos com pneus e roupas velhas e os colocava para povoar as margens do rio. Morreu no início do ano passado, já muito doente.
Segue matéria que escrevi em 2006 no Jornal de Piracicaba sobre a peça teatral "O Filho das Águas", que narra a história do Seu Elias.

Como um Dom Quixote caipira, Elias dos Bonecos mostrou com ternura e simplicidade as tradições populares de Piracicaba e como um simples pescador levou para o mundo a força de seus gestos e ideais. Na montagem primorosa de “Filho das Águas – As Coisa tem o Valor que Nóis dá pra Elas”, sob a batuta de Carlos ABC, o grupo Tragatralha encena a relação de Elias dos Bonecos com o rio Piracicaba. A peça poderá ser vista hoje, às 20h, no Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”, na Mostra Raízes, evento patrocinado pela Fundação Belgo Arcelor-Brasil. A peça foi encenada no Teatro no mês passado e emocionou o público. Ao entrar no espaço, os espectadores eram recebidos por Nhá Dita, uma espécie de narradora da história que oferecia café e dava boas-vindas aos que chegavam à sua casa.
O cenário e o figurino de retalhos de pano coloridos remetem à infância e ao imaginário popular. Em cena também estão o Divino Espírito Santo, a viola caipira e o linguajar típico do piracicabano.
A história de “Filho das Águas” começa com a bênção das casas durante a Festa do Divino e volta no tempo quando “Elia” – como o personagem é chamado em cena – era criança e dependia dos peixes que pescava no rio de Piracicaba para alimentar a família.
A paixão pelo rio e pela natureza vem da convivência do ribeirinho com as águas. A montagem dos bonecos começa com um Judas feito durante a Semana Santa, mas Elias sofre com a destruição de sua “cria”.
Em uma conversa com o Divino resolve colocar seus bonecos na barranca do rio para protegê-lo e para que as pessoas não pensem que o “seu” rio está morrendo.
A peça também tem uma conotação ecológica e mostra Elias montado em seu cavalo imaginário, como um Dom Quixote tentando lutar contra o interesse financeiro na implantação de indústrias poluentes na cidade.
No final, a proposta é uma convivência pacífica entre o progresso e a preservação na natureza. A mudez de Elias – fruto de uma traqueostomia feita há dez anos – é explicada como uma vingança das “almas do sete palmos”, que ficam com raiva do artesão porque as pessoas deixaram de ter medo das assombrações que povoam a barranca do rio por causa dos bonecos.
Aparece ainda no enredo, em forma de anjo, Nhô Lica, morador da cidade que era conhecido por pegar pedrinhas, tampas de garrafa e pedaços de espelho pela rua e guardar como um grande tesouro. Nhô Lica ajuda Elias em duas ocasiões: primeiro surge para que ele não abandone a criação dos bonecos e depois para confortar o anti-herói pela perda da voz. “Sua força não está nas palavras, mas sim nas mãos”, diz o anjo.
Os atores do grupo Tragatralha se revezam em cerca de 20 personagens, com mudanças de pequenas peças do figurino. Elias é caracterizado por usar o boné da indumentária de marinheiro da Festa do Divino.
Ao final da peça fica a mensagem de um homem simples e corajoso que ama e luta pelas suas raízes e pela sua verdade.

3 comentários:

  1. Olá, Flávia. Obrigado pela visita a meu blog e pelo comentário. Seu Entre Telas é muito bom. Parabéns! E esse Elias dos Bonecos é o famoso "puta personagem". Pronto, pitaquei. Um abraço do Duda.

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  2. Olá Flávia!
    Gostei do seu blog "Entre Telas", fantástico!

    Abraços!

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  3. Li esta matéria na ocasião em que fez. Simples e bela.

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