quinta-feira, 21 de maio de 2009

Jornalista caipira

Outro dia me perguntaram em tom de curiosidade: Como é ser jornalista no interior? A princípio achei a pergunta um pouco estranha como se essa realidade fosse impossível.
Fiz faculdade de jornalismo na Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Bauru e obviamente a maioria dos meu professores atuava por aquelas bandas. Não que fossem exímios exemplos de profissionais, mas pra mim trabalhar no interior sempre foi normal.
Lá em Bauru tinha afiliada da Globo e Bandeirantes, rádios e dois jornais e a maioria dos meus colegas de turma passou por essas redações. Já eu me meti na assessoria de imprensa do campus da USP de lá e aprendi a fazer divulgação científica, organizar eventos, acompanhar entrevistas e claro a recortar jornal para fazer clipping.
A diferença entre o jornalismo do interior e da capital está na dimensão dos assuntos. Esqueça grande engarrafamentos, chacinas, mega assaltos a banco e coberturas como visitas presidencias e do Papa (sim eu estive na vinda de João Paulo II ao Brasil e recebi uma apostila com todos os nomes com os quais o pontífice pode ser chamado!).
O resto continua a mesma coisa, as cidades de porte médio têm jornais, TVs e rádios com boa estrutura e nem tão boa assim isenção, mas na grande imprensa isso também está cheio.
Depois de formada trabalhei 6 anos em São Paulo com hard news na TVs Bandeirantes e Cultura e recomendo para todo jornalista recém-formado que aprenda os macetes da profissão por lá. Vi muita coisa bacana, acompanhei muita gente morrer - Covas, Sérgio Mota, João do Pulo e também muita desgraça. As desgraças são sempre imensas na capital paulista.
Com filho pequeno e crise resolvi voltar para Piracicaba, minha cidade, onde mora minha família.
O começo foi difícil, não conhecia ninguém na área. Fiz alguns freelas para a TV Bandeirantes local e depois fui trabalhar numa agência e fazer assessoria de imprensa para uma grande siderúrgica. Apesar de não ter feito assessoria em São Paulo acredito que o mundo corporativo e a comunicação interna seja semelhante em qualquer lugar. Temos que lidar com crises, conflitos e com a grande imprensa em vários momentos.
Depois fui parar no Jornal de Piracicaba. O diário tem 109 anos e é o maior da cidade, tem uma estrutura bacana com uma redação grande. Na época meus editores tinham vindo de grandes jornais como a Folha de S. Paulo e foi um aprendizado. A rotina em partes é mais tranquila, mas a quantidade de linhas diárias é imensa e os plantões aos finais de semana e feriados permanecem. Você tem que ter suas fontes e se pautar o tempo todo. Fui repórter de política e acabei saindo pelas mão do poder - coisa de cidade provinciana.
Voltei para assessoria de imprensa, dessa vez em uma empresa de bens de capital, que produz maquinário para usinas de cana-de-açúcar e outras indústrias, bem na época do boom do etanol. Grandes coletivas e contato inclusive com a imprensa internacional faziam parte da rotina.
Hoje, atendo um cliente da área de educação e respondo direto à gerência de comunicação da instituição em São Paulo, com as mesmas responsabilidades de quem faz o mesmo trabalho por lá.
Claro que as demandas são diferentes e no interior é preciso mais jogo de cintura para se encaixar nos esquemas de quem manda e até onde se pode ir.
Eu acredito que trabalhar em São Paulo ou em outra grande capital é um aprendizados pelo qual a maioria deveria passar, mas o interior hoje é um mercado em expansão que concentra grandes riquezas no Estado. Há espaço para os jornalistas em qualquer lugar.


Em tempo: Promessa é dívida, Priscila!

2 comentários:

  1. Oba!!! Legal que tenha atendido ao meu pedido! Gostei! Principalmente pq a gente que mora aqui em Sampa e vê mta gente do interior tentando vir pra cá pensa que o campo aí é restrito. Se bem que em qquer lugar, atualmente, o mercado está mais enxuto. Mas, como vc disse, há espaço para jornalista em qualquer lugar! Obrigada pela explicação! Bjs

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  2. Eu eu vou fazer 9 anos no interior... Preciso por em pratica uma coisa que uma amoga vive dizendo: "cuidado, com 10 anos cria raízes e bnão sai mais".
    Mas analisando, onde, na capital, irei encontrar o salário que recebo hoje? (pelo menos na somatória dos dois trampos).
    Em termos de agitação,acho que não muda muito. Talvez mude o nível de estresse.
    Mas a mudança que procuro, e talvez esta faça valer a pena, é a mudança que me traga aprendizado!

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